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segunda-feira, 29 de março de 2010

Federais mineiras criam cursos que nem sala têm

FONTE:
http://www.uai.com.br/htmls/app/noticia173/2010/03/28/noticia_minas,i=153337/FEDERAIS+MINEIRAS+CRIAM+CURSOS+QUE+NEM+SALA+TEM.shtml

Federais mineiras criam cursos que nem sala têm

Déficit de estrutura em novos cursos decepciona alunos. Graduações criadas por programa de expansão enfrentam da prosaica falta de espaço físico até carência de professores e aulões coletivos


Glória Tupinambás - Estado de Minas

Publicação: 28/03/2010 08:16 Atualização: 28/03/2010 09:54


Aula à distância no curso de Engenharia da UFMG e computadores sem monitor na UFOP

Estudantes que se aventuram em novos cursos de graduação criados recentemente pelas universidades federais encontram um cenário preocupante em Minas: faltam salas de aula, professores, material de ensino, laboratórios de pesquisa e, principalmente, respeito aos alunos. Nesse território dos "sem-sala" está Simone Cristina Avelar, de 28 anos, do novo curso de design de moda da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Toda entusiasmada com seu primeiro dia de atividades, ela imaginou que iria encontrar carteiras novinhas, laboratórios com computadores de última geração e espaço suficiente para dar vazão à criatividade. Mas, nos dois primeiros períodos, só se deparou com decepção. Além da ausência recorrente de professores, ela e toda a turma foram obrigados a passar incontáveis horas vagando pelos pátios da Escola de Belas Artes por falta de espaço para as aulas.

O tempo passou e hoje, no terceiro período, a situação se tornou ainda mais grave. Nos corredores da escola, materiais adquiridos para atender a demanda do curso acumulam poeira em caixotes lacrados. O motivo seria cômico, se não fosse sério: falta espaço físico para acomodar alunos, manequins, computadores e mesas de desenho. Para abrigar a turma, a universidade cogita até transferir a tradicional biblioteca da Escola de Belas Artes para a Praça de Serviços da instituição, no câmpus Pampulha.


Saiba mais...
Aulas começam e obras não acabam
Alunos convivem com poucos livros e muita água
Estudantes chegam antes da estrutura Há exemplos semelhantes em muitas graduações inéditas criadas pelo Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), lançado pelo governo federal em 2007. Na UFMG, sobram reclamações também nos novos cursos de cinema de animação e artes digitais, arquivologia, antropologia e engenharia de sistemas.

No interior do estado, a carência de infraestrutura atinge da mesma forma alunos das universidades federais de Ouro Preto (Ufop), na Região Central de Minas; de Juiz de Fora (UFJF), na Zona da Mata; e dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). No câmpus Mariana da Ufop, as aulas são ministradas num verdadeiro canteiro de obras e prateleiras vazias na biblioteca da instituição denunciam a falta de livros e material científico adequado para dar suporte aos novos cursos de comunicação social, serviço social, economia e administração, criados há um ano e meio no Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA). Atrasos na construção de prédios e problemas na contratação de professores levaram os diretores da ICSA a pedir à reitoria a suspensão do próximo vestibular, previsto para julho.

Impasse

Assembleias, abaixo-assinados e reuniões com a coordenação da Escola de Belas Artes da UFMG já viraram rotina na vida dos alunos. Segundo a coordenadora de movimento estudantil do Diretório Acadêmico de Belas Artes, Raquel de Souza Prado, a burocracia é o principal entrave para resolver o problema. "Há um projeto de expansão do prédio, mas ele não sai do papel. Professores já aprovados em concursos ainda não foram nomeados. Os novos cursos começaram a funcionar em 2009 e a questão se agrava a cada semestre, com a entrada de mais alunos. No caso da moda, faltam ateliês e oficinas imprescindíveis para o curso", lamenta Raquel.

A aluna Simone Cristina denuncia que a falta de salas e professores é suprida com palestras e seminários. "A solução improvisada pela direção é reunir alunos de diferentes períodos para palestras no auditório. Isso é tapar o sol com a peneira. Além disso, por falta de computadores, estamos aprendendo a fazer à mão desenhos que deveriam ser digitais", diz Simone.

Nos novos cursos de engenharia, a concentração de turmas diferentes no mesmo espaço também já é usual. “Salas com 120 alunos já viraram regra nas aulas de cálculo, por exemplo. Como a disciplina é comum ao ciclo básico de várias graduações, eles reúnem as turmas. Didaticamente, isso é muito ruim, pois o professor não tem condições de tirar dúvidas e dar a atenção devida aos estudantes”, diz um integrante do DA de Engenharia, que preferiu não ser identificado.

A pró-reitora-adjunta de Graduação da UFMG, Carmela Maria Polito Braga, admite problemas pontuais em alguns cursos, mas informa que são “dificuldades transitórias que já estão sendo solucionadas”. Segundo ela, a falta de professores se deve à não aprovação de profissionais em concursos, mas, provisoriamente, outros docentes da instituição estariam encarregados das substituições. E, no caso da carência de espaço físico, ela espera que o problema seja resolvido com a inauguração de três Centros de Atividades Didáticas (CADs). O primeiro deles, voltado para cursos da área de ciências biológicas e de saúde, deve ficar pronto até o fim do ano; o segundo, de ciências humanas e sociais aplicadas, está na fase de fundação do prédio; e o terceiro, de engenharia, ciências exatas e ciências da terra, está em processo de licitação.

"Não há alunos sem aulas na UFMG e temos apenas casos pontuais de problemas. Nesses processos de criação de cursos há uma transitoriedade. As obras estão licitadas ou em andamento e os concursos para professores estão sendo realizados, mas nesse intervalo pode haver descompasso na aplicação dos recursos", afirma Carmela. Por meio do Reuni foram abertas 2 mil vagas na UFMG, que saltou de 4.674 cadeiras em 2007 para 6.670 este ano. Ao todo, 27 cursos foram criados e outros 22, expandidos. A universidade recebeu investimentos do governo federal de R$ 167 milhões: R$ 72 milhões para obras de infraestrutura e R$ 95 milhões para custeio, implantação e reestruturação dos cursos. Nesse período, a UFMG contratou 540 professores e 593 funcionários técnico-administrativos.

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