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quinta-feira, 25 de março de 2010

Manuel Bandeira defendendo os estudantes de Ouro Preto

Manuel Bandeira defendendo os estudantes de Ouro Preto


Texto “De Vila Rica de Albuquerque a Ouro Preto dos Estudantes”, de Manuel Bandeira. Publicado no seu livro “Crônicas da Província do Brasil”, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1937, p. 9-32.


“Não se pode dizer de Ouro Preto que seja uma cidade morta. Morta é S. João d´El-Rei. Ouro Preto é a cidade que não mudou, e nisso reside o seu incomparável encanto (...) O francês Castelnau esteve em Ouro Preto no govêrno do general Andréia. Foi o que levou vida mais gozada. (...) Castelnau, talvez pelas boas apresentações que trazia, pôde desfrutar livremente da sociedade feminina, onde conheceu várias senhoras "notáveis pela boa educação que haviam recebido". Ou então os hábitos mouriscos de retraimento e reclusão já tinham cedido lugar à sociabilidade que se manteve até à mudança da capital. Duas coisas aborreceram Castelnau nos ouro-pretanos: o costume de queimar bombas de estouro e de beugler devant les madones. Os turistas de hoje podem ficar descansados: nada perturba agora o sono dos viajantes senão, uma vez ou outra, alguma rapaziada de estudantes. (...) Afonso Arinos residiu alguns anos em Ouro Preto, no tempo em que ela vivia da sua "profissão de capital", como disse Burton. A sua Atalaia Bandeirante representa uma vista panorâmica da cidade olhada do alto do Caminho das Lages, mas um panorama com a quarta dimensão do passado, que a cada detalhe urbano êle rememora em traços agudos e sóbrios. Em Ouro Preto ainda se recorda a sua elegância impecável, o requinte das suas roupas e das suas maneiras. No seu tempo a cidade vivia ainda com um certo brilho mundano que a mudança da capital arrebatou. Hoje ela é a cidade dos estudantes. São êles que lhe dão vida e animação. Depois do jantar descem o rapazes das Lages, onde as repúblicas alternam com os casebres das mulatinhas besuntadas de rouge e pó de arroz, e vêm cruzar as calçadas e encher os cafés tão simpáticos da rua de S. José. Está claro que as mocinhas da cidade estão por alí também, passeando de braço dado. Naturalmente que se namora... Não há mais ouro, mas ainda lhe resta à Imperial cidade essa outra coisa mais preciosa que o ouro - mocidade, sorriso da velhice da Vila Rica de Nossa Senhora do Pilar".

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