APRENDER PARA SOBREVIVER
Otávio Luiz Machado
É fato que está posto às gerações atuais reavaliar tudo o que as repúblicas fizeram ao longo do tempo, só que agora para construir sob bases próprias um sistema de repúblicas que esteja envolvido num robusto projeto de universidade.
O primeiro pilar da educação para todos (aprender a aprender), que está entre as quatro orientações da UNESCO para a educação do século XXI, acredito que também cabe na discussão: Deve-se aprender coisas novas e aprender a reconhecer as mudanças que se processam no mundo, sem, contudo, deixar de preservar do passado o que é necessário; aprender a desenvolver o mecanismo de aprender (retirado da palestra de Bárbara Freitag na UFOP em 28 de outubro de 1999. Evento organizado por Otávio Luiz Machado).
É urgente o resgate da auto-estima das repúblicas, a recriação do orgulho de ser morador de uma república estudantil de Ouro Preto e trabalhar bastante para que os mais diversos laços das repúblicas com outros setores da comunidade sejam mais fortalecidos.
Não existe outro caminho a não ser pelo diálogo, pela radicalização na formação cidadã dos estudantes e no constante aprendizado com as gerações passadas.
Não podemos pensar as repúblicas hoje sem considerar as transformações radicais da própria sociedade brasileira nos últimos 80 anos, que é a data que algumas repúblicas que foram criadas lá atrás ainda seguem sua vida. Como desconsiderar as diversas mudanças significativas na legislação educacional brasileira, as diversas gestões de Reitores depois da criação da UFOP, a quantidade e a qualidade das gestões dos nossos presidentes da República e seus ministros da educação, dois regimes políticos extremamente autoritários e depois das casas formarem mais de 6.000 estudantes?
Dois pontos fortes podem conspirar contra as repúblicas: a ausência do sistema sócio- econômico na escolha dos novos moradores em todas as repúblicas da UFOP e o monopólio de vagas para determinado curso em algumas poucas casas pertencentes à União.
Sou defensor do atual critério de seleção dos novos moradores e do sistema público de moradia (farei maiores explanações num próximo texto), mas tenho algumas observações a fazer sobre o monopólio de vagas.
Como não basta fornecer moradia gratuita aos estudantes, então é necessário que eles tenham acesso facilitado, permaneçam, aprendam, progridam e contribuam para que os próximos moradores possam crescer, também.
A autonomia de cada república precisa ser considerada, pois senão cairemos no erro dos que querem interferir atualmente em todas as repúblicas. A padronização, a homogeneização e a busca de uma raça pura de republicanos e republicanas só contribui para a geração de seres autômatos, alienados ou frustrados durante o seu período universitário.
Mas questionar o modelo adotado em algumas repúblicas sem tentar pressionar os atuais moradores é justo. Então faço um pequeno desafio: que as repúblicas que ainda aceitam só Engenharia abram uma vaga para estudantes de Humanas e outra para Biológicas. Que os de Farmácia abram uma vaga para Humanas e outra para Exatas. Que as repúblicas só de Exatas abram uma vaga para Humanas e outra para Biológica. E continuem recebendo a maioria dos seus estudantes do curso que sempre as repúblicas receberam.
Os estudantes não podem continuar reproduzindo a divergência Farmácia versus Engenharia eternamente. A expansão de vagas, de cursos e de oportunidades é algo muito significativo. E as repúblicas também precisam acompanhar tais mudanças, seja abrindo mais vagas para os novos cursos, seja criando novas atividades que permitem envolver os moradores de forma mais produtiva com a própria Universidade e a sociedade.
É possível que o Ministério Público (tanto o Federal como o Estadual) venha a questionar a exclusividade de determinado curso ou cursos em algumas repúblicas, pois ninguém é dono do patrimônio público, não tem Escola de Minas, não tem Escola de Farmácia, não tem ex-aluno, não tem Reitor, Diretor, funcionário ou estudante que irá dizer que uma república de Ouro Preto não deve ser destinada “ao estudante da UFOP”, seja ele preto, branco, colorido, rico, pobre, estudante de Farmácia, Engenharia, Filosofia, História, Direito, Medicina, Jornalismo etc.
O estudante ou a estudante de certos períodos lutaram e conseguiram boa parte das repúblicas. Certo? Para quem eles conseguiram? Para os estudantes de Ouro Preto. Quem morava naquela época era o estudante de Farmácia e Engenharia. Logo quem iria morar? E como ficas hoje?
Nunca ouvi um ex-militante que realmente ajudou a conquistar as repúblicas dizer que a casa X, Y ou Z deveria ser destinada a não ser a um outro sujeito que não fosse o estudante universitário.
Muitos podem pensar que as casas chegaram ao seu limite, que qualquer iniciativa para sua valorização seria neutralizada por outros grupos.
Ao invés de deixarmos os estudantes a sua própria sorte, é pedagogicamente correto que incentivemos os estudantes a atuar cada vez mais buscando atingir o interesse público, a construir formas solidárias de convivência, a utilizar os espaços das repúblicas no sentido de radicalizar a sua formação universitária.
Ao longo da história os republicanos deram provas importantes na conservação do patrimônio, na organização interna das casas, na relação com os ex-alunos e na aprendizagem extra-curricular.
Não existe outro caminho para a resolução de impasses. È preciso aprender para sobreviver.
sexta-feira, 5 de março de 2010
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