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terça-feira, 9 de março de 2010

Trechos da Palestra do Prof. Elísio Estanque (da Universidade de Coimbra) na UFOP, 2002

Trechos da Palestra do Prof. Elísio Estanque (da Universidade de Coimbra) na UFOP, 2002. Título da Palestra: Coimbra: Cidade dos Estudantes

“Eu acho a questão das residências estudantis muito importante. E até existe nos Estados Unidos, como conheci na Universidade de Wisconsin de Madison, que eu costumo freqüentar. Só que lá estão em edifícios grandes e até impessoais, mas mesmo assim construíram esse ambiente estudantil próprio. E é uma forma do estudante ter sua aprendizagem social ao lado daquilo que aprende na sala de aula. Ele aprende a se relacionar com outros, e isso para mim é algo muito importante. Eu penso que isso poderia facilitar de fato a participação do estudante na vida cívica em geral. Agora, se há uma clivagem, eu penso que cabe à Universidade e às instâncias da cidade achar uma solução para isso. A Universidade não pode ser uma coisa fechada. A universidade existe para servir a comunidade, para servir a sociedade.
Então não podemos chegar aqui e convivermos sem nos preocuparmos com os estudantes que não podem entrar na universidade, porque as famílias não possuem meios econômicos e culturais para mandarem os seus filhos para a universidade. A universidade precisa ser uma coisa mais ativa e voltada à formação ao longo da vida. E isso significa que a universidade não é só para o jovem que está se formando aos 23 ou 24 anos para desempenhar uma atividade profissional. A universidade é para todos, inclusive para a terceira idade.
(...)
O divórcio entre cidade e universidade é negativo, particularmente em cidades como Coimbra e Ouro Preto. Porque a projeção da comunidade no mundo é a luta por reconhecimento. O que estamos a falar é a luta simbólica pelo reconhecimento que as comunidades buscam.
Coimbra é conhecida principalmente pela sua universidade. No caso de Ouro Preto, pelo fato de ser patrimônio é uma vantagem enorme. E o fato de ser uma cidade estudantil também contribui para isso, porque se fosse uma cidade industrial seria mais difícil de preservar todo um ambiente paisagístico, arquitetônico e ambiental. Eu penso que as repúblicas que surgiram espontaneamente ao longo do tempo e tem o peso que tem e o significado social têm que ser mantidas, tem que ser reguladas, porque se tem irreverência também tem que haver limites”.


“Ouro Preto e Coimbra possuem em comum o fato de serem cidades universitárias marcadas o seu cotidiano pela presença da universidade e pela presença dos jovens estudantes universitários.
(...)
Parece-me, quer Coimbra, quer Ouro Preto, estruturam e reestruturam a sua identidade coletiva enquanto cidades por via da Universidade, por meio dos seus estudantes e pela própria projeção que a Universidade pode induzir.
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As universidades e as cidades universitárias não podem mudar esse fenômeno irreversível da globalização. E as instâncias universitárias poderiam fazer muito mais do que fazem, porque é possível de desejável conciliar tradição com modernidade. E uma parte da Universidade de Coimbra vive só a olhar o passado glorioso e esquece que no presente vão surgir outras universidades mais dinâmicas. A Universidade de Coimbra precisa responder com iniciativas mais ousadas e mais modernas usando a sua própria tradição e a sua história como capital. Eu penso que tradição é fundamental, e Coimbra tem essa vantagem em relação às outras universidades. A questão é saber tirar daí o melhor proveito”.

(...)
“A cultura juvenil e a irreverência estudantil tem muito a contribuir. A república é uma coisa fantástica. Se nos formos à origem do espírito das repúblicas nós iremos à Grécia e a própria origem da democracia. É a contradição ao individualismo. Essas civilizações, comandadas pelas grandes potências nos tem conduzido. A república é a obrigação da partilha, é aquilo que nos ensina a lidar com a diferença e tem um capital imenso. Um capital para a humanidade, mas também é um capital incrivelmente importante para a própria pessoa conseguir mais tarde uma colocação. Em qualquer emprego ou em qualquer atividade o trabalho em equipe é fundamental. Temos de aprender a conviver com as diferenças”.

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“As repúblicas que existem em Ouro Preto e em Coimbra devem ser incentivadas e devem ser apoiadas pela universidade e suas instâncias”.

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“Eu diria, comparando as repúblicas de Ouro Preto com as de Coimbra, talvez em Coimbra elas tenham um significado simbólico maior, mas tem uma representatividade menor que as de Ouro Preto”.

(...)
“Os estudantes que moram em repúblicas são mais irreverentes, são mais sensíveis e abertos em relação à cultura, da arte, da literatura, etc”.

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“A cidade de Coimbra depende muito dos estudantes. A economia doméstica das famílias de Coimbra passa direta ou indiretamente pela presença dos professores, funcionários, estudantes etc”.

“A relação das cidades com os estudantes é de acolhimento e aceitação. E há uma tolerância muito grande com o estudante. Não há de modo nenhum uma clivagem ou mesmo conflito nem mesmo latente entre a cidade de um lado e o estudante do outro. Pelo contrário, a cidade recebe os estudantes e se orgulha de ser a cidade dos estudantes”.
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“A entrada nas repúblicas acontece de modo informal. São os próprios estudantes que se aproximam de um modo ou de outro”.

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