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sábado, 3 de abril de 2010

Texto moradias estudantis: a ditadura da universidade vista de perto

TÍTULO: moradias estudantis: a ditadura da universidade vista de perto
FONTE: Jornal Causa Operária
DATA: 28-03-2010

A greve de 2009 e o confronto dos estudantes com a polícia revelou a verdadeira ditadura que são as universidades brasileiras.
“A universidade não é uma democracia”, como já tinha exposto a ala mais direitista da burocracia universitária. E foi isso que veio à tona com a recente ocupação da sede da Coordenadora de Assistência Social (Coseas), responsável pela moradia e pela assistência estudantil na USP.
No local se encontravam dezenas de fichas que mostravam um sistema estabelecido, reconhecido e regular de espionagem dos estudantes que moram no Conjunto Residencial da USP (CRUSP).
Relatórios dos “porteiros” , verdadeiros policiais que têm o papel de vigiar de perto a vida dos estudantes a mando da universidade, controlavam não apenas o horário de chegada e saída dos moradores, mas detalhes do dia-a-dia do CRUSP.
Desde festas, com seu horário de duração, participantes, tipo de música etc., até a troca de namorados dos estudantes e até mesmo um controle de visita da filha de determinada moradora foram encontradas nos referidos relatórios.
Como não poderia deixar de ser, os espiões da reitoria retratavam cuidadosamente todas as reuniões e assembléias estudantis feitas no local, com os participantes e o assunto discutido. Esta é evidente a ponta de um gigantesco iceberg, de casos ainda mais escandalosos que, ou não foram achados, ou se encontram em local mais secreto do que a sede da Coseas.
Mesmo isto não é novidade. O Sindicato dos Trabalhadores da USP já havia denunciado que a guarda universitária mantinha relatórios diários e de hora em ora da atividade de um de seus diretores, Claudionor Brandão, demitido em 2008 pela reitoria, em uma evidente perseguição política ao companheiro.
Esse tipo de atividade, que vem desde a ditadura militar e permanece absolutamente a mesma até hoje, é totalmente inconstitucional.
Para dizer o mínimo, fere completamente a privacidade dos quase dois mil estudantes que habitam a moradia e constitui uma verdadeira espionagem ao estilo SNI dos estudantes e o cerceamento dos seus direitos políticos e de organização. Estes são tratados na moradia como verdadeiros prisioneiros sob liberdade condicional, que não têm direito sequer sobre o próprio local em que vivem.
Se é fato que a forma como a universidade é atualmente dirigida é uma ditadura, e os últimos acontecimentos só têm comprovado isso, a moradia estudantil é a melhor e mais completo retrato desta ditadura.
Aí a Reitoria, e por meio dela o governo, exercem uma total dominação, passando por cima dos direitos mais básicos dos estudantes. Em documento, a universidade deixa explícita a preocupação e o trabalho para evitar que a moradia não se torne um terreno fértil para a propagação de idéias de extrema esquerda e a necessidade de, por isso, a controlar com mão de ferro.
Essa situação não é exclusiva da USP, mas é a regra geral nas moradias de todas as universidades públicas. É preciso colocar um fim a tamanha ditadura. É preciso acabar com a vigilância e controle da universidade sobre a vida das pessoas.
Cada vez mais se coloca claramente a necessidade de substituir a camarilha que atualmente manda na universidade – e por meio da qual o governo e os capitalistas tiram proveito da universidade – por um governo amplo e verdadeiramente democrático de todos os seus setores, composto por funcionários , professores e uma maioria de estudantes.

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