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sábado, 10 de abril de 2010

Artigo: Novamente em defesa dos estudantes de Ouro Preto: Imagem, Direito e um pouco mais de respeito

Novamente em defesa dos estudantes de Ouro Preto: Imagem, Direito e um pouco mais de respeito
Otávio Luiz Machado*
*Pesquisador do NEEPD-UFPE. Ex-Aluno da UFOP. Autor de livros e coletâneas. Destaque para: Repúblicas de Ouro Preto e Mariana: Percursos e Perspectivas; Repúblicas Estudantis de Ouro Preto: Trajetórias e Importância e; Repúblicas Estudantis de Ouro Preto e a Construção de um Projeto de País.

As repúblicas de Ouro Preto estão injustamente sendo linchadas em função do oportunismo de gente que quer ganhar prestígio, conquistar votos ou promover pequenas vinganças pessoais contra moradores e ex-moradores das repúblicas.
Enquanto os críticos implacáveis das repúblicas tentam instrumentalizar o trabalho da própria Justiça, as repúblicas se organizam e mais uma vez mostram a sua competência para continuar a contribuir com a cidade de Ouro Preto.
Mas a falta de uma baliza ética dos opositores ferrenhos das repúblicas é evidente, pois não sabem distinguir conceitos básicos como igualdade, diferença, público, privado, cidadania e democracia.
O pior de tudo é querer homogeneizar um sistema de repúblicas cujo valor maior é o da diversidade. Uma frase do importante sociólogo português é muito instigante:

“Devemos lutar pela igualdade sempre que a diferença nos inferioriza; devemos lutar pela diferença, sempre que a igualdade nos descaracteriza” (Boaventura de Sousa Santos).

Os críticos implacáveis não pensam nos inúmeros pais ou mães de famílias que dependem das atividades dos estudantes para a sua própria sobrevivência (o limite para a realização do carnaval gerou instabilidade no orçamento de diversos ouropretanos). Eles também não pensam nos diversos estudantes que precisam dos incrementos feitos todos os anos nas repúblicas para o êxito nos seus cursos. E muitos menos nos pais, tios, irmãos, primos, avós e demais familiares dos estudantes que chegam a ficar doentes por causa do terrorismo feito em cima dos estudantes da UFOP que, por estarem longe da casa das famílias, o aumento da angústia é natural.
O modus operandi dos críticos é o mesmo. Primeiro começam a circular boatos sobre as repúblicas, os estudantes e a própria UFOP, com o único objetivo de dividir a sociedade entre os bons e os maus. Eles estão no primeiro time (lógico!). Em seguida começam a tentar legitimar seus posicionamentos a partir de uma base (pseudo) científica. Até a tentativa de instrumentalização e aparelhamento do trabalho da Justiça para atender seus próprios interesses estão se fazendo valer.
O que sempre os estudantes fizeram e fazem para apoiar Ouro Preto é difícil de registrar em curtas palavras. Mas nunca podemos aceitar que meia dúzia de pessoas joguem as milhares de pessoas que vivem na cidade (moradores nascidos na cidade, professores, estudantes, funcionários públicos e tantos outros) umas contra as outras. Quem sairá perdendo é o cidadão que não consegue ter acesso a tantos benefícios, recursos e vantagens que a meia dúzia de caluniadores usufrui.
O princípio da generalização nos argumentos dos opositores às repúblicas é o erro mais comum na explanação. Se uma república comete um pequeno deslize, então cabe estender a culpa a todas as demais. Como não estão conseguindo sucesso atacando as repúblicas federais, o grupo partiu para cima das repúblicas particulares, que também precisam reagir juntas para defender a imagem da UFOP.
Outro princípio é do distanciamento da moradia de Ouro Preto do que existe de melhor em termos de casas de estudantes das outras universidades brasileiras. O critério sócio-econômico já existe nas moradias da UFOP, bem como a seleção dos calouros pelos próprios moradores da república. No aspecto da seleção, conforme percebi em diversas ocasiões que visitei as moradias das duas principais universidades do País (USP e Unicamp), lá são os próprios interessados que buscam os locais que pretendem morar, dialogando com os moradores mais antigos as possibilidades de conquistar uma vaga nas casas.
O critério de escolha dos novos moradores pelos próprios republicanos é algo que Ouro Preto não foge muito das principais instituições do País. Como o calouro precisa ir de casa em casa para conversar com os veteranos e consultá-los sobre a existência de vagas, o perfil esperado dos novos moradores e informes sobre possíveis vagas disponíveis em outros locais, então a AUTONOMIA é uma questão de respeito e é aceitável como um princípio universitário.
A Unicamp é uma das universidades que possuem regulamentos que tratam amplamente de uma discussão educacional e não meramente assistencialista em relação à moradia estudantil, pois entendem que não é apenas fornecer moradia para os estudantes de famílias de baixa renda, mas “proporcionar um espaço de discussão sobre as questões concernentes à Academia, bem como uma área de estudos e produção intelectual, incentivando a formação interdisciplinar”, “possibilitar a integração entre os estudantes e a Comunidade Externa” e “oferecer melhores condições para criação intelectual e a livre manifestação cultural dos estudantes” (UNICAMP. Deliberação Consu-A-24, de 04/12/2001).
A administração da Unicamp enfrenta problemas nas suas moradias de tempos em tempos, que é resolvida na base do diálogo e baseando-se no critério educativo, que são apropriados para uma instituição universitária.
A diferença é que lá a Universidade não é linchada pelos problemas das moradias, muito menos os inconformados querem derrubar as moradias para construir prédios com outras finalidades.
Outro princípio é do “faça o que eu digo mas não o que faço”, cujos maiores críticos implacáveis das repúblicas merecem nossa atenção. Temos o caso de um político da cidade que morou em repúblicas da UFOP, depois mudou de lado e saiu da instituição, passando a criticar de forma sistemática as repúblicas para ganhar visibilidade e votos. É possível que no seu íntimo em nenhum momento passasse uma luz que o fizesse refletir sobre devido retorno à sociedade a partir do que a população gastava em seu benefício.
Temos também casos de estudantes profissionais (que nunca sairão da UFOP) que encontraram na crítica às repúblicas o caminho de saída do anonimato. Os profissionais sofrem de amnésia e não sabem que os ouro-pretanos não aceitam traidores e elementos infiltrados.
Temos os ex-alunos que não moraram em repúblicas e que são ressentidos, ou seja, os que sempre tentaram acabar com as repúblicas porque o seu “mundinho” não é coletivo, é individual. Eles não aceitam que as repúblicas continuem.
Temos uns poucos comerciantes mesquinhos e fortes politicamente que também não aceitam as repúblicas, simplesmente porque acreditam que elas estimulam um turismo alternativo e de baixo custo. E que os nossos jovens sem recursos não precisam ir a Ouro Preto (patrimônio da humanidade). Já ouvi muitos comerciantes falando que o turista com muito dinheiro (de preferência estrangeiro) é de interesse, mas não o brasileiro com pouco dinheiro.
O que os nossos críticos possuem em comum é o descompromisso com a universidade pública. Falam em produtividade, mas o que produzem (quando acontece) não provoca nenhum impacto à vida do povo de Ouro Preto.
Se formos analisar a atuação dos muitos críticos ferrenhos das repúblicas que estão estudando hoje na pós-graduação, o que observamos na prática de 99% deles é a pouca transparência na utilização de recursos públicos, a baixa produtividade, a duplicidade no recebimento de recursos públicos e o pouco empenho no uso racional dos espaços da universidade. O que eles exigem das repúblicas sequer exigem de si mesmos.
A história é fundamental para apresentar as repúblicas como elementos dinâmicos da cidade num período superior a um século. A quantidade de ex-alunos formados, a conservação impecável das casas, o compromisso com a vida universitária, a presença constante na imprensa e o respaldo da própria UFOP e da população de Ouro Preto é o melhor resultado da transparência das repúblicas nos dias de hoje.
Não há segredos, ameaças ou surpresas quando vivemos nas repúblicas. O que existe de união em defesa da coisa pública é difícil de ser encontrado em qualquer lugar por aí. A exigência do compromisso com a casa e os seus moradores é a lição que até hoje não sofreu qualquer abalo, mesmo com a perseguição ferrenha em cima dos estudantes visando desestabilizá-los.
Em outros artigos demonstrei como a “cidade dos estudantes” foi se constituindo ao longo de um século, sempre ativa e altiva.
Elas não deixaram de cumprir sua função social, que é de apoiar os estudantes durante a formação profissional e torná-los ex-alunos de destaque.
Elas não deixaram de cumprir sua missão histórica, que é a de apoiar a conservação da cidade.
Elas não deixaram de cumprir sua tradição, que é o de dotar os estudantes com moradias dignas.
Elas não deixaram sua razão de existir. Dentro da diversidade, ao permitir que o estudante escolha um local de apoio e de aprendizagem constante é um ganho para a universidade. O estudante ganha com o respaldo, o apoio e a familiaridade dos seus colegas.
A maioria das pessoas que promovem declarações caluniosas diretamente às repúblicas de forma genérica e depreciativa sobre um patrimônio singular na cidade de Ouro Preto e do próprio País, é possível que não saibam que, ao tratar o conjunto de estudantes e ex-alunos envolvidos institucional ou sentimentalmente (que de alguma forma pertencem ao conjunto da república) como afetos à práticas ilegais, cometem o crime de calúnia e difamação.
Também caluniar “os estudantes” e os “ex-alunos” como membros de um grupo que não visa atender o interesse público (e que utilizam o patrimônio público de forma criminosa) é ir contra o amplo direito de defesa, cujo texto legal determina que ninguém é culpado de nada antes de ser julgado, condenado e se tenham esgotados todos os recursos.
Uma prática comum dos cidadãos que são expostos injustamente nas mídias (inclusive a eletrônica) como criminosos (e depois de algum tempo quando nada são provados contra eles) é processar seus caluniadores e exigir-lhes indenizações por perdas e danos.
A forma como os defensores do fim das repúblicas e da própria UFOP se dirigem aos estudantes e ex-alunos está dentro de um ato de mais pura intimidação e ameaça, que também é cabível questionamento do ponto de vista legal. O limitador nesses casos é o período curto em função da prescritividade do crime.

Enquanto acusam as repúblicas de tradicionalistas, o que vemos na atuação dos estudantes é a ampliação do seu projeto de futuro, também muito apoiado na vontade de ajudar os estudantes que chegarão à UFOP, a própria Universidade a construir um caminho mais humano na sua expansão e o País na diminuição das desigualdades. Enquanto eles criticam a UFOP, a instituição só sobe de posições no ranking das melhores universidades do Brasil. Enquanto eles ameaçam as repúblicas e a Universidade, o que vemos é o início de um movimento dos moradores em defesa da sua Universidade (Pública!!!!).
O povo de Ouro Preto é muito inteligente e não aceitará que uma minoria prejudique novamente a cidade. Quando a minoria diz falar em nome da maioria sem conhecimento de causa, a fatura é paga pelo lado mais fraco, que já está cansado de perder muito em função da aventura, da loucura, da crueldade e do mandonismo de grupos que nada produzem de fato para a cidade.

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