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domingo, 14 de fevereiro de 2010

Artigo Entre pecados e penitências (Por Jean Dyêgo Gomes Soares)

Entre pecados e penitências

Jean Dyêgo Gomes Soares - Estudante de Filosofia da UFOP




As decisões que o ministério público tomou a fim de proibir as iniciativas carnavalescas das repúblicas federais nos moldes em que eram feitos estão sendo apresentadas como a solução dos problemas para o carnaval de Ouro Preto. Parece-me que resolveram a situação: acabaram com as hospedagens “que atrapalhavam o setor hoteleiro e lotavam a cidade” e proibiram a atividade subsidiária das repúblicas que, segundo muitos amargurados, nada tinha de subsidiária.

Os sem conhecimento de causa mais uma vez fazem sucesso e, como dizem lá na minha São Domingos do Prata, uma mentira contada 10 vezes torna-se fato incontestável. Não propuseram às repúblicas nenhuma alternativa plausível que permitisse declarar o que faziam para que todos soubessem como as coisas acontecem, para onde os recursos vão e, se algum sobrasse para onde ele poderia ir. Mas, enfim, decisões são decisões e o cristão aqui não poderá mudá-las.

Porém, para não dormir com a consciência pesada, sugiro que pensemos na contramão dos argumentos usuais.

Se o carnaval das repúblicas federais é cancelado por motivos mil inquestionáveis, o carnaval das outras repúblicas continua a todo vapor, pedindo mais lenha pra colocar na fogueira. A situação dos hoteleiros mendigos que tem prejuízo no carnaval não vai melhorar: a esmola do turista que vinha para as repúblicas federais só mudará de mão, diga-se de passagem, vai para a mão de outros republicanos que não precisam prestar contas ao poder público, pagam o seu ISSQN e levam o dinheiro para suas casas particulares – o que tem um mérito inquestionável. As repúblicas federais, que batalharam por anos pelo espaço que ocupavam no carnaval de Ouro Preto, pelo respeito da população e dos turistas que consagraram a excelência desta iniciativa, não puderam negociar meio termo, foram banidas sem piedade. Agora, repúblicas históricas, cuja manutenção era garantida pela ação de estudantes ativos e trabalhadores de uma causa pública, vão custar aos cofres do governo. Este por sua vez nem precisava se preocupar com a manutenção destes imóveis, projetava a expansão de novos tipos de moradia para atender outras demandas estudantis. Pior pra nós, para todos nós!

Quanto aos atos de secretaria de turismo e cultura são admiráveis: considera a bahianalização do carnaval de Ouro Preto um risco às tradições da cidade e prevê 40 mil turistas para o carnaval de uma cidade que possui 68 mil habitantes. É preciso descobrir o que se quer. Pôr 40 mil pessoas em Ouro Preto demonstra toda a baianidade da Secretaria. Não condeno as atitudes desta, mas peço coerência. Manter o controle sobre o carnaval de uma cidade tão híbrida, com estilos de curtir a folia tão diferentes como Ouro Preto exige um entendimento amplo do que seja o carnaval: a festa de todos, da liberdade, do pecado para o cristão que já está próximo de uma quaresma de penitências.

Vale lembrar, a falta de meio termo pode se transformar numa grande penitência a ser cumprida durante o carnaval e os nossos cristãos – estudantes, hoteleiros, justiceiros e administradores – estarão no mesmo barco, pois se a voz do povo é a de deus, talvez esse deus pode não perdoar o pecado cometido com o carnaval de Ouro Preto em 2010.

Um comentário:

  1. Muito bom o artigo! Parabéns! Acho que necessário mais organização da nossa parte!

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