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sexta-feira, 1 de novembro de 2013

OPINIÃO: Sinais de interferência na autonomia das repúblicas estudantis da UFOP (Por Otávio Luiz Machado)



Sinais de interferência na autonomia das repúblicas estudantis da UFOP
Otávio Luiz Machado*

Ao abrir o jornal O Tempo do dia 01/11/2013, quando me deparei com a matéria “Aluno ruim não terá república”, o que veio imediatamente no meu pensamento foi o ano de 1971 -  o período mais macabro da ditadura civil-militar de 1964 - , inclusive foi quando a administração central da UFOP buscou intervir na autonomia de repúblicas estudantis da própria universidade de forma mais intensificada. 


Talvez falte atualmente uma visão de futuro para se analisar a importância da gestão compartilhada de todos os assuntos relacionados à manutenção dessa organização chamada república, o que nos leva a perceber que são satisfatórias para o êxito do empreendimento dessas causas valores de autonomia dos membros dentro da organização, a autogestão e o cumprimento de uma estrutura semi-hierarquizada que resolve de forma colegiada todos os assuntos pertinentes ao cotidiano da organização.
No caso de 1971 os estudantes reagiram fortemente à imposição de uma medida que feria a própria existência das repúblicas, dizendo ao reitor de plantão que suas medidas violariam a autonomia, que é “um dos mais sagrados princípios que regem os estudantes desta Casa”. Também disseram que a “convivência entre sêres humanos não pode ser imposta” (Ofício do Diretório Acadêmico da Escola de Minas (DAEM), de 23 de novembro de 1971).
Para alguém mais antenado, a medida pode indicar que a quebra da autonomia das repúblicas da UFOP será fatiada em várias partes. Vem com uma medida, com outra, com mais outra, daí a pouco as repúblicas acabam sendo vendidas ou se transformam em grandes ajuntamentos de pessoas que ficam abandonadas, pois é o que se percebe em vários alojamentos de estudantes em várias universidades do País.
É uma grande mentira que os estudantes moram gratuitamente nas repúblicas, porque eles dedicam parte do seu tempo para cuidar da casa cotidianamente, porque a universidade não coloca um centavo sequer para a manutenção dos prédios. Eles acabam trabalhando em prol da casa. Ou seja: não existe nada grátis.
Se a maioria dos estudantes da UFOP moram em Repúblicas particulares, então a medida é inócua do ponto de vista de efetivar um maior compromisso do conjunto dos estudantes com o melhor aproveitamento da sua trajetória escolar. O que se pretende? A transformação das repúblicas da UFOP em ambientes precarizados e burocratizados ao extremo?
Se a universidade quiser que os estudantes aproveitem melhor seus cursos que comece a aparelhar bem os laboratórios e as salas de aulas, que crie incentivos ou atrativos para que eles estudem mais. Com medidas pontuais não se resolve nada, porque a questão é estrutural. Ou se vai utilizar dois pesos e duas medidas para os estudantes?
 
* Ex-aluno da UFOP, professor universitário, pesquisador, documentarista e editor. E-mail: otaviomachado3@yahoo.com.br

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