REPÚBLICAS ESTUDANTIS DE OURO PRETO E MARIANA: PERCURSOS E PERSPECTIVAS
OTÁVIO LUIZ MACHADO
Editora Livro Rápido, 2009
1. Estudantes universitários – Comportamento. 2. Movimentos Estudantis. 3. Universidade Federal de Ouro Preto – moradias estudantis. 4. Memória Histórica. 5. Sociologia da Juventude. 6. Universidade. 7. Educação extracurricular. 8. Expressões culturais.
CDU316.6:378.4
SUMÁRIO
Agradecimentos ................................................................................................. 9
Prefácio
Kleber Farias Pinto ............................................................................................ 10
Apresentação
Otávio Luiz Machado ........................................................................................ 12
Introdução
Otávio Luiz Machado ........................................................................................ 14
PRIMEIRA PARTE: REPÚBLICAS DE OURO PRETO E MARIANA: A HISTÓRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO (UFOP) E A VIDA ESTUDANTIL
Otávio Luiz Machado ........................................................................................ 17
SEGUNDA PARTE: HISTÓRICO DE ALGUMAS REPÚBLICAS DE OURO PRETO E MARIANA
República Adega ........................................................................................... 69
República Aquarius ...................................................................................... 69
República Arca de Noé ................................................................................ 70
República Arcádia ......................................................................................... 70
República Arte & Manha ............................................................................. 70
República Bangalô ........................................................................................ 71
República Bastilha ........................................................................................ 71
República Baviera ......................................................................................... 72
República Bem Na Boca .............................................................................. 72
República Bico Doce .................................................................................... 73
República Boite Casablanca ....................................................................... 73
República Buceta ........................................................................................... 74
República Butantan ....................................................................................... 74
República Canaan .......................................................................................... 74
República Casanova ..................................................................................... 75
República Cassino ......................................................................................... 76
República Castelo Dos Nobres ................................................................... 76
República Chega Mais ................................................................................ 76
República Cirandinha ................................................................................... 77
República Consulado .................................................................................... 77
República Convento ..................................................................................... 77
República Cosa Nostra ................................................................................. 78
República Covil dos Gênios ....................................................................... 79
República Cruz Vermelha ........................................................................... 80
República Doce Mistura ............................................................................. 80
República dos Deuses ................................................................................... 81
República Espigão ......................................................................................... 81
República Favinho de Mel .......................................................................... 81
República FG ................................................................................................. 82
República Formigueiro ................................................................................ 83
República Gaiola De Ouro ......................................................................... 83
República Hospício ....................................................................................... 84
República Jardim de Alá .............................................................................. 84
República Jardim Zoológico ...................................................................... 85
República Koxixo .......................................................................................... 85
República Lumiar .......................................................................................... 86
República Maracangalha ............................................................................. 87
República Maria Bonita ............................................................................... 87
República Marragolo .................................................................................... 88
República Maternidade ................................................................................ 89
República Mixuruka ..................................................................................... 90
República Nascente ...................................................................................... 90
República Nau Sem Rumo .......................................................................... 91
República Necrotério .................................................................................... 91
República Ninho do Amor .......................................................................... 93
República Ovelha Negra .............................................................................. 93
República Palmares ...................................................................................... 94
República Pasárgada ..................................................................................... 95
República Patotinha ...................................................................................... 96
República Penitenciária ............................................................................... 95
República Peripatus ...................................................................................... 96
República Pif-Paf .......................................................................................... 96
República Poleiro dos Anjos ...................................................................... 97
República Pronto-Socorro ........................................................................... 98
República Pulgatório .................................................................................... 98
República Pureza ......................................................................................... 100
República Quarto Crescente ..................................................................... 101
República Quase Normal ........................................................................... 101
República Quitandinha ............................................................................... 101
República Rebu ............................................................................................ 102
República Reino de Baco .......................................................................... 103
República $Audade da Mamãe ................................................................ 103
República Sé ................................................................................................. 103
República Senzala ....................................................................................... 104
República Serigy ......................................................................................... 105
República Sinagoga .................................................................................... 106
República Snoopy ....................................................................................... 106
República Sparta .......................................................................................... 106
República Tabu ............................................................................................ 107
República Tanto Faz ................................................................................... 107
República Taqueupa ................................................................................... 108
República Território Xavante (Tx) .......................................................... 109
República Tigrada ....................................................................................... 109
República Toka ............................................................................................ 110
República Unidos Por Acaso (Upa) ........................................................ 110
República Vaticano ..................................................................................... 111
República Verdes Mares ............................................................................ 112
República Vira Saia .................................................................................... 112
República Virada Pra Lua ......................................................................... 113
República Xamego ...................................................................................... 113
República Xeque-Mate .................................................................................. 114
TERCEIRA PARTE: AS REPÚBLICAS DESDE OS ANOS 1920: DEPOIMENTOS E MEMÓRIAS
Estudar em Ouro Preto nos anos 1920: a conquista de um ideal maior Antônio Moreira Calaes ............................................................................... 115
Repúblicas em Ouro Preto e o golpe de 1964
Nelson Maculan Filho .................................................................................... 116
A Fundação da Aquarius: um caso de ocupação
Antônio Moreira Campolina ......................................................................... 119
A vida em república: Tempo e Espaço de aprendizado para a vida e a profissão
João Bosco Silva ............................................................................................ 120
Paisagem de Ouro Preto
Fernando Brant ............................................................................................... 123
Alferes
João Bosco e Aldir Blanc .............................................................................. 123
Aos Txanos e à TX
Aldo W. R. Grossi .......................................................................................... 124
Nasce a Pulgatório – o mundo que se cuide!
José César Caiafa Junior ................................................................................ 129
Depoimento sobre a invasão do DOPS na República dos Deuses
Armando Lopes Farias ................................................................................... 131
História e Memória das Moradias estudantis do Campus do Morro do Cruzeiro da UFOP: Breve relato sobre a fundação da República Arte & Manha
Duarte de Magalhães Barbalho .................................................................... 135
A Fundação da República Zona: um caso de construção da UFOP em Mariana
Rafael Magdalena .......................................................................................... 138
A Fundação da Tanto Faz: um caso de ocupação recente em Ouro Preto
Lícia Barros Gonçalves ................................................................................. 141
Considerações Finais do autor ................................................................... 142
Fontes ............................................................................................................. 143
ANEXOS: Percursos do Movimento Estudantil em Ouro Preto
Otávio Luiz Machado ...................................................................................... 146
APRESENTAÇÃO
Otávio Luiz Machado
A grande dúvida de quem passou por Ouro Preto, seja em tempos recentes, seja em tempos mais alongados, poderíamos dizer que é sobre a capacidade ou não dos (das) atuais moradores (as) de tratar com as questões fundamentais para a sobrevivência da própria República.
Matérias apressadas da imprensa, opiniões preconceituosas sobre as repúblicas e seus moradores e desinformação sobre o passado das repúblicas e sua presente contribuição para a cidade são algo que preocupa muito quem é ex-aluno ou ex-aluna de Ouro Preto.
O livro irá tentar provocar um debate entre os atuais moradores com seus ex-moradores, pois ninguém até o momento dedicou tantos anos de pesquisas como eu, quando pude entrevistar centenas de ex-alunos (as), visitar várias vezes as casas, coletar documentos raros sobre as repúblicas e apoiar novas pesquisas.
Como cantou Sérgio Godinho e Milton Nascimento, com tantas experiências propiciadas para a produção desse primeiro livro específico sobre as repúblicas, só tenho a declarar que “em Ouro Preto eu não me sinto só”.
Que as pessoas preconceituosas em relação ao ambiente alegre de Ouro Preto percebam que por trás dos (das) jovens republicanos (as) existem desejos, vontades, paixões, emoções, alegrias, esperanças e uma gratidão muito grande por morar em uma cidade tão cheia de significados.
Que as pessoas saibam de uma vez por todas que as repúblicas foram e são fundamentais para a conservação da cidade de Ouro Preto, ontem e hoje. Casas que foram abandonadas com a transferência da capital para Belo Horizonte no final dos anos de 1890 e início dos anos 1900 (ou simplesmente caíam nos anos 1960 por falta de condições para a sua conservação) foram assumidas por estudantes, que passaram de geração a geração até os dias de hoje se dedicando às casas dando o melhor de si para que os imóveis permanecessem conservados, impulsionando a presença de muitos brasileiros na cidade e divulgando a cidade por todo o mundo.
A auto-gestão é o modelo que deu certo e merece todo o nosso respeito. Longe do desinteresse pela coisa pública, da instrumentalização das repúblicas para fins particulares e do mau uso do patrimônio público, os moradores e ex-moradores trabalham afincamente para manter as casas dentro de um ideal carregado pelo mais alto espírito público, visando sempre o interesse social dos imóveis.
A generosidade, a construção de um projeto coletivo, o debate franco entre as pessoas e o convívio com tantas experiências acumuladas bem sucedidas cotidianamente é parte da vida de quem mora em repúblicas.
São os atuais moradores que conhecem as prioridades da casa, pois trabalham aprendendo por meio de um ensino extracurricular importante, também cientes de que nem sempre poderão escolher no mundo profissional com quem irão trabalhar, mas certamente estão muito aptos a selecionar os estudantes com quem irão dividir sonhos e responsabilidades.
Por fim acredito que não existe ninguém com mais autoridade para cuidar das repúblicas do que os estudantes. É um crime não permitir que eles utilizem os espaços da casa para promover atividades acadêmicas, sociais e culturais, bem como utilizar as potencialidades do bem público para a sua própria manutenção.
É um crime impedir que jovens de outras cidades, Estados e países vivenciem um pouco a experiência em república em alguma data importante para a cidade de Ouro Preto, como o carnaval, o Festival de Inverno, o 21 de Abril ou o 12 de Outubro.
O crime maior é impedir que os ex-alunos participem da vida cotidiana das casas também nestas datas, inclusive contribuindo para o engrandecimento das casas, da UFOP, de Ouro Preto e do País. O preço da contribuição de milhares de ex-alunos que se dedicaram às repúblicas durante seus anos de estudo é incalculável.
Duvido que alguém esteja disposto a questioná-lo, pois estaria indo ao desencontro da Constituição cidadã de 1998. A conveniência do interesse público, indubitavelmente, impedirá os diversos crimes que tentam ser cometidos contra as repúblicas, seus moradores, ex-moradores e a própria Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) por forças que não aceitam o trabalho das repúblicas em prol de uma universidade pública, gratuita, de qualidade e referenciada socialmente.
PREFÁCIO
Kleber Farias Pinto
Este livro é o verdadeiro retrato das repúblicas dos estudantes. Nesta história insere-se o meu galhardão de fundador da República Formigueiro, uma casa onde se forjou o caráter de homens que se tornaram, até hoje, meus melhores amigos. Para isto, sobretudo, sempre serviram as Repúblicas.
O Engenheiro Pedro Rocha no seu livro Homens de Ouro Preto já se referia à República Bastilha hospedando Getúlio Vargas “um indiozinho pequenino, magrinho, sempre com um risinho indefinível a mascarar-lhe o pensamento”, recém-chegado na década de 1890.
Em 21 de abril de abril de 1954, ao transferir para aqui simbolicamente a Capital do Brasil, meses antes do seu suicídio, ouvi daquele Presidente da República palavras carinhosas sobre a “República Bastilha”. Recebi dele um autógrafo “com um abraço” coisa que, junto à foto daquele momento, guardo com muita emoção.
Esse convívio republicano de, no mínimo, seis anos estimulava o aparecimento de vocações extra-curriculares. Na Formigueiro o Engenheiro Maestro Ubirajara Cabral criou o Coral de Ouro Preto, que ganhou o título nacional do Jornal do Brasil de melhor coral de música popular nos anos 1950 e até hoje não superado.
Nas serestas da República Sinagoga nasceu o Engenheiro Cantor João Bosco, hoje um expoente das paradas musicais. E dos “golos” de cachaça nas festinhas também se lamenta os descaminhos, para o alcoolismo, de alguns fracos.
Da minha Formigueiro são imensas as lembranças. O Pintor Alberto da Veiga Guignard, aos beijos com a cozinheira “comadre” Regina, por quem sofreu inesperada e alcoolizada paixão. Nesta noite Guignard fez um único desenho humorístico que se tem notícia.
A voz de prisão que eu recebi quando lecionava uma aula para minhas paraninfadas na Escola Normal por autoria comprovada do roubo do porco da Dona Tonica também é uma outra lembrança importante. Isto foi uma arbitrariedade porque os larápios eram da Pensão Vermelha. Havia se celebrado um “convênio” com a Formigueiro para a matança, banquete do suíno e devolução dos ossos a sua proprietária, só aqueles que foram embrulhados, com fita de presente, em um jornal de assinatura com meu nome e endereço.
Juscelino Kubitschek escolheu um engenheiro da Escola de Minas, Israel Pinheiro, para construir Brasília em quatro anos. Veio à Ouro Preto como Governador de Minas e, ao visitar uma República com Israel, procurou o Presidente para manifestar-lhe seu desejo de ter este título!
É importantíssima na vida profissional a função da República. Ali se revelam, inteiramente, as tendências humanas, o senso de responsabilidade, de tolerância ou agressividade, de organização, de lealdade e de garra, que são tão necessários ao perfil de diversos profissionais, como é o caso dos engenheiros. São centenas as equipes de sucesso nos grandes empreendimentos que foram formadas a partir desse conhecimento.
Um dos mais expressivos foi a construção de Brasília. Para as posições que não podiam falhar foram convocados os engenheiros da Escola de Minas: Diretorias de Operações, Planejamento, Energia Elétrica, Saneamento, Estradas etc. Eles eram da confiança absoluta de Israel Pinheiro, que realizou a obra do século, no Brasil, ao saber colocar o homem certo no lugar certo.
As repúblicas sempre se constituíram como uma família mais verdadeira que a consangüínea. Isto porque cada um escolhe seu “irmão”. Não há o grupo familiar imposto e muitas vezes detestável. E se o escolhido não é o ideal você o substitui.
A comunidade assim formada convive durante anos e anos. E o mais rico nunca leva vantagem. Mas a dignidade de cada um é o que conta para nivelar a vida em comum. É comum se ouvir de antigos alunos que quando as repúblicas possuíam cozinha própria e não havia o Restaurante Universitário, a convivência era maior entre os estudantes e a influência republicana na moldagem das personalidades era completa.
Em Ouro Preto não é importante saber em que ano você se formou mas em que República você morou. Não são seus colegas de bancos escolares seus grandes amigos mas seus companheiros de vida estudantil. Isto se constitui na mais expressiva experiência de vida que jamais tive.
É notável como estas casas, com mais de um século, mantém acima das leis, em perfeito regime anárquico, uma tradição e coerência. Todos mandam e ninguém obedece.
Que pessoas e entidades sigam o exemplo da Fundação Gorceix ajudando os estudantes carentes, a Escola de Minas e a Universidade, mantendo este modelo de vida, de solidariedade e de liderança. Liderança que permitiu a homens como Pandiá Calógeras, um civil, engenheiro, tornar-se o mais expressivo Ministro da Guerra do Brasil.
Os livros de visitas e registros das Repúblicas as de atas do Centro Acadêmico ou os depoimentos em tantos livros como os escritos por David Dequech, José Fiuza de Magalhães, Cassio Damazio são preciosidades históricas a serem preservadas.
Soma-se a tudo isto, agora, esta obra coordenada pelo escritor e pesquisador Otávio Luiz Machado Silva – um homem fiel a Ouro Preto e Mariana. Muito me honra prefaciar este livro, porque em Ouro Preto é uma legenda. E disto muito necessita o Brasil.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Maravilhosa a exposição de abertura de um belo livo.
ResponderExcluirAgnaldo
Brilhante
ResponderExcluir