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sábado, 5 de dezembro de 2009

Rascunho da Apresentação do livro Repúblicas de Ouro Preto e Mariana


APRESENTAÇAO
Otávio Luiz Machado


A grande dúvida de quem passou por Ouro Preto, seja em tempos recentes, seja em tempos mais alongados, poderíamos dizer que é sobre a capacidade ou não dos (das) atuais moradores (as) de tratar com as questões fundamentais para a sobrevivência da própria República.
Matérias apressadas da imprensa, opiniões preconceituosas sobre as repúblicas e seus moradores e desinformação sobre o passado das repúblicas e sua presente contribuição para a cidade são algo que preocupa muito quem é ex-aluno ou ex-aluna de Ouro Preto.
O livro irá tentar provocar um debate entre os atuais moradores com seus ex-moradores, pois ninguém até o momento dedicou tantos anos de pesquisas como eu, quando pude entrevistar centenas de ex-alunos (as), visitar várias vezes as casas, coletar documentos raros sobre as repúblicas e apoiar novas pesquisas.
Como cantou Sérgio Godinho e Milton Nascimento, com tantas experiências propiciadas para a produção desse primeiro livro específico sobre as repúblicas, só tenho a declarar que “em Ouro Preto eu não me sinto só”.
Que as pessoas preconceituosas em relação ao ambiente alegre de Ouro Preto percebam que por trás dos (das) jovens republicanos (as) existem desejos, vontades, paixões, emoções, alegrias, esperanças e uma gratidão muito grande por morar em uma cidade tão cheia de significados.
Que as pessoas saibam de uma vez por todas que as repúblicas foram e são fundamentais para a conservação da cidade de Ouro Preto, ontem e hoje. Casas que foram abandonadas com a transferência da capital para Belo Horizonte no final dos anos de 1890 e início dos anos 1900 (ou simplesmente caíam nos anos 1960 por falta de condições para a sua conservação) foram assumidas por estudantes, que passaram de geração a geração até os dias de hoje se dedicando às casas dando o melhor de si para que os imóveis permanecessem conservados, impulsionando a presença de muitos brasileiros na cidade e divulgando a cidade por todo o mundo.
A auto-gestão é o modelo que deu certo e merece todo o nosso respeito. Longe do desinteresse pela coisa pública, da instrumentalização das repúblicas para fins particulares e do uso mau uso do patrimônio público, os moradores e ex-moradores trabalham afincamente para manter as casas dentro de um ideal carregado pelo mais alto espírito público, visando sempre o interesse social dos imóveis.
A generosidade, a construção de um projeto coletivo, o debate franco entre as pessoas e o convívio com tantas experiências acumuladas bem sucedidas cotidianamente é parte da vida de quem mora em repúblicas.
São os atuais moradores que conhecem as prioridades da casa, pois trabalham aprendendo por meio de um ensino extracurricular importante, também cientes de que nem sempre poderão escolher no mundo profissional com quem irão trabalhar, mas certamente estão muito aptos a selecionar os estudantes com quem irão dividir sonhos e responsabilidades.
Por fim acredito que não existe ninguém com mais autoridade para cuidar das repúblicas do que os estudantes. É um crime não permitir que eles utilizem os espaços da casa para promover atividades acadêmicas, sociais e culturais, bem como utilizar as potencialidades do bem público para a sua própria manutenção.
É um crime impedir que jovens de outras cidades, Estados e países vivenciem um pouco a experiência em república em alguma data importante para a cidade de Ouro Preto, como o carnaval, o Festival de Inverno, o 21 de Abril ou o 12 de Outubro.
O crime maior é impedir que os ex-alunos participem da vida cotidiana das casas também nestas datas, inclusive contribuindo para o engrandecimento das casas, da UFOP, de Ouro Preto e do País. O preço da contribuição de milhares de ex-alunos que se dedicaram às repúblicas durante seus anos de estudo é incalculável.
Duvido que alguém esteja disposto a questioná-lo, pois estaria indo ao desencontro da Constituição cidadã de 1998. A conveniência do interesse público indubitavelmente impedirá os diversos crimes que tentam ser cometidos contra as repúblicas, seus moradores, ex-moradores e a própria Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) por forças que não aceitam o trabalho das repúblicas em prol de uma universidade pública, gratuita, de qualidade e referenciada socialmente.

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